É antigo mas continua muito atual, devido ao vergonhoso ataque aos cofres públicos perpretado pelos terroristas que agora se dizem vítimas.
Vítimas somos nós, trabalhadores decentes que temos que pagar essa conta inaceitável.
GermanoCWB
Domingo, Novembro 26, 2006
Os mortos da ditadura: mito e realidade
Certos raciocínios são mesmo inaceitáveis. Perguntam-me, em vocabulário impublicável, de onde tirei os números sobre os mortos da ditadura no Brasil. Pois não. Do livro Dos Filhos Deste Solo, escrito pelo ex-ministro Nilmário Miranda, petista, e pelo jornalista Carlos Tibúrcio. Aliás, é uma co-edição da Boitempo Editorial (aquela do caso Emir Sader) e da Fundação Perseu Abramo, ligada ao PT. Logo, senhores esquerdistas, a fonte é a melhor possível para vocês. Reitero o que já havia escrito: não deveria ter morrido uma só pessoa sob a guarda do Estado. Mas é uma estupidez e uma fraude querer comparar o que se deu no Brasil com o que aconteceu na Argentina ou na Cuba de Fidel Castro — por que não?Para ser preciso, o livro lista, com enorme boa vontade nos critérios, 424 casos de pessoas que teriam morrido ou que ainda são dadas como desaparecidas em razão do regime militar — ainda que numa razão nem sempre direta. Estão contados aí pessoas vítimas de acidentes, suicídios, gente que morreu no exterior e até os justiçamentos: esquerdistas assassinados por esquerdistas porque supostos traidores. Sim, meus caros: a esquerda nunca viu mal nenhum em aplicar a pena de morte. Sem tribunal ou direito de defesa.Desses 424 — logo, bem menos do que os 500 que eu mesmo mencionei porque estava com preguiça de ir à fonte —, assassinados mesmo, comprovadamente, foram 293 pessoas. Mas atenção: isso inclui as que morreram na guerrilha do Araguaia: gente que estava armada, para matar ou morrer. Dá para saber até a distribuição dos mortos segundo as tendências:
ALN-Molipo – 72 mortes (inclui quatro justiçamentos)
PC do B – 68 (58 no Araguaia)
PCB – 38
VPR – 37
VAR-Palmares – 17
PCBR – 16
MR-8 – 15
MNR – 10
AP – 10
POLOP – 7
Port – 3
É muito? Digo com a maior tranquilidade que a morte de qualquer homem me diminui, segundo frase famosa que já é um chavão. Mas 424 casos não são 30 mil — ou 150 mil, se fôssemos ficar nos padrões argentinos. Isso indica o óbvio: a tortura e a morte de presos políticos no Brasil eram exceções, embora execráveis, e não a regra. Regra ela foi no Chile, na Argentina, em Cuba (ainda é), na China (ainda é), no Caboja, na Coréia do Norte, na União Soviética, nas ditaduras comunistas africanas, europeias… Só a ALN-Molipo deu cabo de quatro de seus militantes. Em nome do novo humanismo…
A lei de reparação que está em curso no Brasil é das mais generosas, tanto é que alcança até alguns vagabundos que fizeram dela uma profissão, um meio de vida, arrancando dos pobres e dos desdentados indenizações milionárias e pensões nababescas. Até aí, vai uma sem-vergonhice que não ameaça criar tensões desnecessárias.
Querer, no entanto, rever a Lei da Anistia como se o drama dos mortos e desaparecidos fosse um trauma na sociedade brasileira como ainda é na argentina ou na chilena é um completo despropósito. Pode, quando muito, responder ao espírito de vingança de alguns e gerar intranqüilidade para o resto da sociedade, a esmagadora maioria.
De resto, tão triste — ou até mais — do que a tortura com pedigree, aquela exercida contra militantes de esquerda no passado, é a que existe ainda hoje nos presídios brasileiros. Imaginem se cada preso comum acionar o Estado por conta de maus-tratos ilegais sofridos cotidianamente nas cadeias. Ocorre que essa gente não conta com a disposição militante para fazer proselitismo. Não existe uma comissão especial para cuidar do assunto. A esquerda, como sempre, só dá pelota para o “seu povo”, não para “o” povo.
Em tempo
Não postei algumas mensagens desairosas, malcriadas, contra Gabeira por causa de seu passado. Até Delfim Netto já foi socialista — fabiano, mas foi. Gabeira pagou, como todos os que foram protagonistas daqueles dias horríveis, o preço por suas opções e soube entender as demandas do presente. Algumas de suas lutas não são as minhas, mas eu saúdo o fato de que sua militância, hoje, só pode ser exercida plenamente numa sociedade democrática e de mercado. E isso está a anos luz de distância do petismo. Querem saber? Acho até louvável que ele não fale como se não tivesse um passado. Ele tem. Não depende dele. O que importa é que ele dá mostras de saber o que fazer daquele tempo.
Censuro a ação que hoje colhe o coronel Brilhante Ustra porque me parece que ela comete justamente o erro de trazer o passado a valor presente, forçando a história a recuar no tempo, especialmente quando temos uma Lei da Anistia. Foi incômodo o tal jantar de solidariedade dos militares da reserva a Ustra? Foi, sim. Não teria ocorrido se alguns aloprados não estivessem segurando gasolina em uma das mãos e um fósforo aceso na outra.
Os militares não são imbecis. Se esse caso prospera, é claro que será apenas o primeiro de uma série. Não sei prever o futuro. Sei operar com categorias lógicas. Se há alguém acreditando que a história pode, quase 30 anos depois, regredir para submeter apenas um dos lados ao chicote, está fazendo uma aposta errada. Errada e perigosa. Ustra só quer que o esqueçam. Os que, hoje em dia, preferem ser lembrados são alguns ex-terroristas que pegaram em armas e agora disputam eleições.
O Brasil é melhor sob a vigência plena da Lei da Anistia. Garanto.
Por Reinaldo Azevedo | 22:19 |
Veja mais: http://veja.abril.com.br/blogs/reinaldo/
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