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O revide dos céticos do aquecimento
Acusados de ligação com a indústria do petróleo, eles se reúnem em Nova York para contar sua versão da história
Gabriela Carelli
Com uma plástica impecável e a história bem contada sobre os 30 anos de ativismo ambiental do ex-vice-presidente americano Al Gore, o filme Uma Verdade Inconveniente, vencedor do Oscar no ano passado, promoveu um feito: popularizou a questão do aquecimento global nos quatro cantos da Terra. Mas será o homem o responsável por uma emergência planetária iminente, resultado da emissão de CO2, como propagou Gore, a ponto de causar inundações bíblicas e a varrição de cidades inteiras por furacões furiosos? Um grupo de cientistas dissidentes, os céticos, acha que não - e eles resolveram sair a público para contar outra versão da história.
Até então restritos a aparições pontuais e polêmicas, os céticos não são mais tão poucos - formaram um grupo coeso e estão dispostos a comprar briga com ambientalistas radicais. Prova disso é o evento que começa hoje, em Nova York. Mais de seis dezenas de dissidentes, muitos dos quais notáveis, de instituições de renome, irão reunir-se em uma conferência internacional cuja tema principal é Aquecimento Global: Crise ou Fraude? Desde que o aumento das temperaturas tomou as manchetes, nunca tantos cientistas com idéias contrárias ao IPCC, o painel climático da ONU que ganhou junto com Al Gore o Prêmio Nobel da Paz no ano passado, reuniram-se para debater o tema.
A idéia, de acordo com os organizadores, é expor estudos que desmentem a “tese apocalíptica”, mostrar a seriedade da corrente cética e achar soluções plausíveis para o problema do aquecimento. “Discutir a responsabilidade total ou parcial do homem, e os caminhos a seguir caso nossa presença na Terra estiver interferindo no clima, é muito relevante, pois implica em uma mudança radical de vida para todos os habitantes do globo. O unilateralismo só prejudica”, diz James Taylor, coordenador do evento.
Vistos como os meninos maus do ambientalismo, os céticos são acusados de ligações com a indústria do petróleo, de quem ganhariam gordas mesadas para passar ao mundo a mensagem de que o aquecimento é uma falácia. Eles juram que não beneficiam ninguém. “Mesmo se diminuíssemos drasticamente a emissão de CO2, não atingiríamos as metas de Kyoto. É um fato”, diz Patrick Michaels, da Universidade da Virgínia. “É importante diminuir a emissão de CO2 para melhorar os problemas ambientais imediatos das metrópoles, não para tentar salvar o mundo de um suposto colapso”, diz o dinamarquês Bjorn Lomborg, no livro O Ambientalista Cético.
O futuro do planeta, como aceitamos hoje, vem sendo traçado pelo IPCC desde 1998. O painel reúne uma elite de 2.500 dos principais pesquisadores de mudanças climáticas da atualidade e tem a missão de atualizar as informações sobre o clima. De acordo com o painel, o aumento da temperatura em até 6,8°C até o fim deste século acarretará uma série de catástrofes naturais, como aumento do nível dos mares e disseminação de doenças tropicais.
Os céticos não negam a existência de um aquecimento em curso no planeta - quase todos os cientistas atualmente concordam que as temperaturas na Terra aumentaram 1°C no século passado - nem contestam o efeito estufa. Eles partem do princípio de que o clima está mais quente não por causa do homem, mas devido a um ciclo natural de aquecimento e resfriamento do globo. Esse ciclo obedeceria a forças mais poderosas do que a presença de mais CO2 na atmosfera, como a influência do Sol na Terra. Em um estudo recente, o geólogo Don Easterbrook, da Universidade de Western Washington, mostrou que nos últimos 15 mil anos houve dez períodos de aquecimento mais intensos do que o atual - e esses períodos se alinham com o aumento da intensidade da radiação solar.
A radiação solar, o magnetismo do núcleo da Terra e a órbita do planeta, argumentam os céticos, determinaram o clima por milhões de anos. “O aquecimento é resultado de muitos fatores. A emissão de gases é um deles, mas está longe de ser o mais relevante”, diz Richard Lindzen, do Instituto Tecnológico de Massachusetts (MIT). “O homem pode alterar o clima, mas é muita ignorância e presunção supor que sua ação tem mais impacto do que as atividades no núcleo terrestre, por exemplo. Isso moveu placas tectônicas, empurrou os Andes e o Tibete.”
Para o grupo, as catástrofes anunciadas pelo IPCC não passam de alarmismo. “Caminhamos para uma era glacial, mas, pelo amor de Deus, não precisamos prender a respiração por isso”, diz Michaels, da Virgínia. Para os céticos, as medições de computador que projetam tais hecatombes são falhas e excluem muitas variáveis climáticas. O filme de Al Gore, alardeiam os céticos, estimou o aumento dos mares em 2.000%.
Mas, afinal, em quem acreditar? O mundo vai acabar em dez anos se não evitarmos as emissões de CO2, como diz Al Gore? Ou é tudo uma jogada de marketing, como dizem os céticos? “O que propicia essa discussão sem fim sobre o aquecimento global e suas conseqüências é a própria natureza do clima”, diz Lindzen, do MIT. “O sistema climático é complicadíssimo - e mecanismos fundamentais ainda são desconhecidos”, escreveu o dinamarquês Lomborg.
Conheça mais sobre esse assunto em:
- Site Mitos Climáticos - Rui G. Moura
- Mídia Sem Máscara
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