Este texto eu escrevi em 2010 e estava perdido em uma pasta no PC.
Esclareço que "Boca Maldita" é uma parte do calçadão da Rua das Flores em Curitiba, e tem esse nome por ser o local onde reúnem-se políticos, jornalistas e palpiteiros em geral para, entre um cafezinho e outro, falar mal da vida dos outros.
Também é o lugar escolhido para a realização de todos os tipos de manifestações, reuniões e comícios.
Boa leitura
GermanoCWB
Lula na Boca Maldita
Impressões de um pedestre
(Sábado, 31 de julho de 2010)
Sabadão, solzão, calorzão... e
a Boca Maldita interditada!
Pois é. Um enorme palanque
foi armado na Boca Maldita para receber o Sr. Luiz Inácio Lula da Silva et
caterva, quer dizer, comitiva (desculpa aí. Foi mal!)...
Tão enorme quanto o palanque
era a tal comitiva. Era tanta gente que mal conseguiam se acomodar, colocados
em um plano mais alto às costas dos importantes que iriam discursar, exatamente
como aqueles papagaios de pirata, sabem?
E era um bando. Mas de
importante mesmo, acho que tinha o Presidente, óbvio; a futura Presidenta,
Dilma; o ex-futuro Governador Osmar Dias e seu vice; a futura Senadora Gleisy;
o arroz de festa Dr. Rosinha; e mais alguns que não recordo. Ahhh, como poderia
esquecer: presente também estava o mais francês dos brasileiros, o
aristocrático Michel Temer, vice de plantão e lambendo o Requião como sempre.
Cheguei à Boca Maldita e
estava toda essa muvuca armada. Pensei que aquele meu chopinho no Bar Mignon
havia ido para as cucuias, já que um evento tão espetaculoso deveria atrair
milhares de pessoas e tomar conta de, pelos menos, umas três quadras do
calçadão. Mas, que nada, sai da minha frente que eu quero passaár....ops, ops,
isso é outra coisa...
Mas, que nada, fiquei ali
sentado tomando meu chopinho, a menos de uma quadra do palanque e, pasmem, o
populacho não chegou sequer até o bondinho!!!!!!!! O calçadão estava
vazio!!!!!! Havia mais gente com credenciais de imprensa, comitiva, segurança,
puxa-saco e staff do que gente assistindo ao mega-evento!
Por causa das bandeiras de
todas as cores não dava para ver o palco da cadeira em que eu estava sentado,
na sombra, tomando meu chopinho, mas dava para ouvir muito bem o gritedo vindo
do palanque logo ali. Falaram muitos, um após o outro, aos gritos pesados e
quase raivosos que é típico dos políticos, particularmente dos da utópica e
auto-glorificada esquerda Internacional Socialista.
E Lula, o clímax da festa,
estava quase chegando. Depois de Osmar Dias falar bem pouco, servindo só para
anunciar a Dilma, veio ela.
Véio... ela veio. E veio,
véio, cheia daquele sorriso forçado de quem pouco sorriu durante a vida. Veio
pesada, véio, e veio carregando nos ombros o peso do currículo, e começou a
falar. Uma palavra de cada vez. Pausadamente. Não. Não assim. Mais pausado
ainda. Mais. Mais. Isso! Mais ou menos assim: Companheiras
............................... mulheres ......................................................
aqui presentes ...................................................................................
Companheiros
.......................................................................................
que vieram ............................................... aqui
................................................. na Boca Maldita
............................................................................................
palco de luta
................................................................................
de pessoas ............................................................................................
corajosas
............................................................................
Cada pontinho desses tinha
mais ou menos um segundo de duração e tudo sempre tem luta no meio apesar do
troço ter acontecido a 40 anos atrás, mas tudo bem. E assim foi durante o pouco
tempo em que prestei atenção, já que a mulher é de matar (sem referências ao
passado, hein!), ela é monocórdia, quase monossilábica, usa um tom de dureza monolítica,
e é monó...tona. Tudo é mono. Monótona, fria como um cadáver (olha aí de novo),
ela matou, matou (!!!!) mesmo o gran finale tão esperado que era a hora do
Lula, este sim um especialista em palanques. Mas graças a ela eu não consegui
esperar pelo Lula e mudei minha atenção para outras coisas para não dormir ali
mesmo, em cima do copo de chopp.
Então fiquei olhando e
pensando onde estaria o mar-vermelho petista e acabei descobrindo que ele mudou
de cor, camaleão que é, visto que em muitas bandeiras brancas, verdes e azuis
de todos os matizes estavam escritos os nomes de petistas de carteirinha ou
daqueles habituais encostos, que vivem esperando uma beiradinha no poder...
qualquer poder, não importa a cor. Além disso, o vermelhão comunista nunca foi
muito simpático e anda meio desmoralizado graças às peripécias do pândego
neoditador Chaveco.
A falta das bandeiras
vermelhas me alertou também para o fato de que a subsidiária brasileña de las
FARC, o baluarte da reforma agrária MST não estava presente, quebrando, depredando
e invadindo tudo em apoio à Via Campesina.
Certamente que Dilminha, além
de liberar alguma graninha extra para os coitadinhos beira-de-estrada
profissionais, ainda mexeu uns pauzinhos junto aos seus amigos de luta para que
não aparecessem por ali, envergonhando o seu maior defensor e provedor em plena
campanha de apoio a ela.
Acabei de tomar mais um
cristalzinho, paguei os déizão ao desenhista que fez a minha caricatura
e saí
pelas ruas que contornam a praça Osório para investigar o porquê dessa mirrequinha
de gente na Boca Maldita.
E a resposta estava logo ali
ao meu redor, em todos os lugares e em todas as direções, bem embaixo do meu
nariz adunco: CURITIBANOS.
Isso mesmo! As ruas do
entorno estavam lotadas de pessoas indo e vindo carregadas de sacolas e que não
estavam nem aí para o falatório vomitado de cima do palanque para meia dúzia de
embasbacados boquiabertos!
As calçadas e as lojas
estavam lotadas, os cafés estavam lotados, as ruas socadas de carros que
normalmente já não conseguem andar, e com várias ruas interditadas então,
simplesmente não saíam do lugar. Tudo como num típico sábado de sol no centro
de Curitiba.
Nada, absolutamente nada,
denunciava um mega-evento na Boca Maldita. Nem o som dos alto-falantes chamava
a atenção já que a Boca Maldita é sempre muito barulhenta.
Isso que vi esclareceu tudo:
sem poder trazer hordas de componentes do MST e da Via Campesina para que a
festa não acabasse em saques e badernas, e sem poder trazer, a soldo, uma
quantidade muito grande de funcionários públicos para não dar na vista, a
organização petista teve que engolir a seco a sua verdadeira popularidade em
Curitiba para horror de Osmar Dias, que graças a essa aliança com o PT já
perdeu também Londrina, complexada e escaldada pelos oito anos passados sob os
desmandos do petista Nedson. O Beto deve estar rachando de rir até hoje.
Ou seja, a imensa maioria das
pessoas que assistiam ao evento eram os gatos pingados pagos para carregar
bandeiras e os que vieram em ônibus fretados com dinheiro público de cidades do
interior para fazerem número. E eram ainda, passantes que como eu só queriam
conseguir chegar até uma sombra ou até uma loja qualquer.
E os curitibanos? Bem, os
curitibanos não estavam na Boca e eu afirmo isso porque aquelas pessoas se
cumprimentavam umas às outras; elas não davam ombradas em quem se atrevesse a
cruzar seu caminho; elas olhavam para frente e não para o alto empinando o
nariz como se quisessem bronzear o interior das narinas com o belo sol daquele
sábado. Aquelas pessoas tinham um sorriso nos lábios e o mantinham mesmo que o
“ser inferior” ao seu lado lhe perguntasse as horas.
E o principal: o semblante
visto nas pessoas que circulavam nas ruas fora da Boca Maldita era carregado
com o característico ar de superioridade, com o canto da boca repuxado em um
constante sorrisinho sarcástico de quem se ufana de não gostar de política. Era
aquele arzinho de quem tem certeza de que todo aquele discurso que está sendo
feito não diz respeito a ela ou ele, pois o curitibano já sabe o que falarão e,
se ele ou ela quisessem, fariam e falariam muito melhor. Mas ele ou ela não
querem se envolver em coisa tão sem importância como o destino do país. A ele
ou ela bastam seus cachorrinhos bonitinhos, sua roupinha melhor que a da amiga
e o seu carrão, com mandado de busca e apreensão, é certo, mas, ninguém precisa
saber disso, né?
Tudo isso era, portanto,
diametralmente oposto ao semblante e à atitude das pessoas que estavam na Boca
Maldita e, por isso, tenho certeza: aquelas pessoas não eram de Curitiba.
E a quais outras importantes
conclusões cheguei depois disso tudo?
Bem... o Presidente é o Lula
e a Dilma será o próximo; o Dr. Rosinha estará no próximo palanque e o Osmar,
infelizmente, já era; e .... ah! Que chato!
O importante mesmo é que o
chopinho na Boca Maldita continua ótimo e as meninas em desfile continuam lindas,
nos belos sábados de sol de Curitiba!
Abraços