quarta-feira, 16 de maio de 2007

É proibido reprovar, professora!

Opinião: É proibido reprovar, professora!JB Online: http://jb.com.br
Ubiratan Iorio, economista

Os professores da rede municipal desta cidade que já foi maravilhosa, doravante, não poderão mais reprovar os seus alunos! E, além da avaliação I (insuficiente), está também suprimido o conceito O (ótimo), pois, ao que parece, a Secretaria de Educação deseja evitar que se cristalize uma "elite" (palavra politicamente condenada), formada pelos melhores alunos...É o que reza a Resolução SME 946/2007, que dispõe sobre a avaliação escolar, publicada no Diário Oficial de 27 de abril. Este novo mandamento dos pedagogos de gabinete parece voltado, primeiro, a conter a evasão escolar que, segundo suas mentes privilegiadas, tende a aumentar com o "trauma" provocado pelas reprovações; segundo, claramente, a maquiar as estatísticas; terceiro, a segurar os alunos nas escolas, para que não fiquem perambulando pelas ruas à mercê do crime, já que seus responsáveis são irresponsáveis; e, finalmente, a dar o tiro de misericórdia na classe de privilegiados malvados formada pelos que exercem a missão de ensinar.


Sim, privilegiados, porque nossos professores e professoras da rede municipal, a exemplo de seus colegas da rede estadual, ganham uma fortuna, trabalham poucas horas - o que os livra da canseira de terem de fazer a chamada "dupla regência" e de lecionar em mais de um colégio - dispõem de todos os equipamentos que a moderna tecnologia de ensino oferece, atuam em escolas em cujas cercanias nem de longe há risco de eclodirem tiroteios, são respeitados pelos educados discípulos, valorizados pela importância de sua profissão, têm todos os incentivos para se aperfeiçoarem em novos cursos e todas as motivações para permanecerem no magistério... E malvados, porque se comprazem em reprovar alunos e alunas dedicados, interessados e que buscam sempre aprender... Managgia!


Será que nossas professoras não sabem que reprovar um aluno que mata aulas e que não estuda é um crime contra a "inclusão social"? E que têm por obrigação substituir muitos pais e mães ausentes, que depositam filhos no mundo sem se preocuparem em cuidar deles?


Será possível que nossos mestres desconheçam que sua principal função não é ensinar, impor-se pelo saber e pelo respeito, mas evitar que seus alunos descambem para as estradas do tráfico e da marginalidade? Que, ao invés de ensinarem matemática, devem incentivar o uso de preservativos para os alunos? Que, em vez de ensinarem a ler, escrever e interpretar o português, sua obrigação é despertar "consciências ecológicas"? Que devem evitar lecionar a história como ela se deu e forjar-lhe o determinismo marxista, para formarem "engajados"? Ensinar a velha geografia? Não, o que importa é a "educação sexual"... Ciências? Ora, o relevante é a "consciência cidadã"...


O decreto que proíbe as professoras de reprovarem é, ao mesmo tempo, um acinte a quem preza a educação, uma absoluta falta de respeito para com o professorado e uma demonstração de como a politização da educação - tão defendida pela esquerda - reflete-se na degradação de algo que já vem sendo sucessivamente degradado, tanto pelos governos como pela arrogância dos pedagogos.


Comparar tal medida com o que acontece em países desenvolvidos, como fez o prefeito do Rio, é como confundir focinhos de porcos com tomadas, pois as condições culturais, econômicas, sociais e éticas dos alunos, bem como as condições de trabalho dos professores, são muito diferentes. A famosa "Mãe Joana" - tudo o indica - fixou residência definitivamente "neste país" infeliz, presidido por alguém que, de educação, entende tanto quanto os mosquitos da dengue de Física Quântica.


Aos professores do Rio, heróis mais uma vez desautorizados e humilhados, minha solidariedade. E um humilde conselho: não fiquem calados diante de tanta falta de respeito: chamem os pais de seus alunos e perguntem a eles se é isto o que desejam para os seus filhos! Se for, lavem as mãos e aprovem todos, pois o futuro os reprovará com um baita zero!

10 comentários:

Andrea Poça disse...

Sou professora do Rio de Janeiro e estou envergonhada por isso tudo. Nós, professores da rede, não fomos consultados, somente avisados. Estamos fazendo barulho junto aos nossos alunos e responsáveis . O que vai acontecer ... eu não sei.

Marcos José Alves disse...

Sou prof municipal em Goiania e aqui o "buraco" é mais embaixo. Acreditem!! Aqui impera o sistema de ciclos (extingui-se as séries, o seja, matricula-se os alunos não com base no conhecimento, mas sim, de acordo com a idade. Exemplos bizarros e concretos em nossa Capital: em 2004 lecionei para apenas alunos matriculados em turmas correspondentes à "antiga oitava séries ultima etapa do ciclo" e acreditem: os alunos eram assim: havia alunos que vieram, DIRETAMENTE, da quarta, quinta e sexta série, para a última etapa do ensino fundamental. Atualmente está ocorrendo o mesmo procedimento. E viva a Educação Pública neste país!! Ah tal crime contra os pobres de nossa cidade motivou-me a fazer a minha monografia do Curso de Direito sobre este excludente sistema de ensino que aqui impera. Caso alguém possa contribuir com indicação de livros, site, desde já agradecemos!!

Obs. Em 2006 um aluno obteve 134 faltas dentre os 200 dias letivos. Ele simplemente foi aprovado, sem contar com outros que tiveram 90, 100, 110 faltas. Aqui em Goiânia impera aquilo que Heloísa Helena sempre diz: "os filhos da pobreza neste país são as cobais do Poder Público"

Marcos José Alves

germanocwb disse...

Olá Augusto.
Obrigado pela visita e pela postagem desse excelente e esclarecedor texto que nos dá uma nova perspectiva para analisar esse assunto tão polêmico.
Abs
JG

fabiana disse...

como fica neste momento o conceito de cidadania?

rosana disse...

só quero saber que tipos de alunos serão formados e suas consequências para o mundo do trabalho? não sei nem o que dizer

kátia M. da Cunha disse...

Sou professora da rede minicipal de ensino. Bem, me pareceu estranho digitar a palavra ensino. Pois esta parece uma rede municipal de injustiça. A estas crianças está sempre sendo negado o direito a igualdade ...
Nossas salas equipadas com carteiras quebradas, sem ventiladores e uma lousa entiga. Há! esqueci de mencionar que ainda usamos o mimiógrafo.
E a culpa de não atrair o aluno é do professor.
Agora com o conceito global o aluno assiste uma aula de Ed. Física no trimestre e será aprovado em tudo. É mole!!
E a culpa dele não ir para sala é do professor.
Bem, nestas primeiras semanas de vigência desta porcaria, digo, portaria já se instalou realmente a "Mãe Joana", as turmas estão vazias. Os alunos só estão assistindo as aulas que acham "Legal" nas outras eles simplismente saem de sala ou nem entram.
Eles não sabem como estão sendo usados hoje e como irão sofrer amanhã. Está sendo tirado deles o direito e o prazer de aprender, de conhecer, de descobrir, ter oportunidades e de abrir seus horizontes. Isto é um crime.
O tráfico sabe disso e estamos "formando" mais gente para compô-lo.
Precisamos nos unir e lutar por essas crianças e por nós mesmos.
Agradeço ao Ubiratan Iorio pela excelente opinião e por ter tido goragem de usar as palavras corretas em todos os sentidos.
E ao Jb por este espaço. Precisamos muito da ajuda da mídia para reverter esse quadro. precisamos que as pessoas inteligentes e formadoras de opinião estejam comprometidas com a verdadeira educação. Precisamos de ajuda, de muita ajuda......

elizabeth job disse...

A respeito do texto que questiona a avaliação, a reprovação e coloca "toda" a responsabilidade de incentivar o aluno a aprender sobre escola (o professor, propriamente) e coloca o aluno sempre como "vítima" do sistema tradicional.
Penso que o autoritarismo que existia na prática de boa parte dos docentes no passado gerou uma tendência que culminou nas teorias exageradamente democráticas, que na verdade de democráticas nada têm, e que causa até uma certa empatia aos leitores quando se deparam com textos pseudo-democráticos e que não contribuem em nada para ajudar o já tão difícil ofício de mestre, o qual está cada dia mais desvalorizado, desrespeitado, aviltado...

Silmara Hashimoto disse...

Estou preocupada com o futuro das nossas crianças, estamos em uma encruzilhada, pois de um lado temos professores com métodos arcaicos e muita falta de tato, quase ou completamente loucos, sem um mínimo de preparo psicológico para trabalhar com crianças. Em outro extremo temos uma nova didática que aparentemente deveria ser muito interessante, pois ela não reprova, mas será os nossos educadores estão preparados para tal novidade? Será que eles é que deveriam ser reprovados? Sim, reprovados pois muitos deles não têm a menor condição de entrar em uma sala de aula e encarar de frente muitos dos alunos, pois eles são tão ignorantes quanto os alunos novatos, pior tem aluno que é mais inteligente que seu professor. Espero que tudo mude mas mude de forma que os nossos filhos possam ser melhor que nós seus pais, professores.

Rubênia Régia disse...

Diante mão venho até você uma pessoa de vasto conhecimento para pedi-lo que por favor tire-me uma dúvida, é relacionado a reprovações em massa de um professor universitário, o qual reprova uma percentual maior que 50% dos alunos, na universidade já existe uma afeição a sua pessoa. A meu ver é sua metodologia, ele não consegue transmiti seu conhecimento à ponto de dar entendimento. Universidade a qual falo é a UERN, na qual faço o curso de licenciatura em filosofia.

Agradeço desde já...

Rubênia Régia

Rubênia Régia disse...

POR FAVOR ESPERO INCARICIDAMENTE RESPOSTA. OBG!

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