domingo, 10 de julho de 2011

Bons profissionais precisam 'estar abolindo' o gerundismo

Yahoo Notícias.

1 hora, 18 minutos atrás




São Paulo, 2 de Outubro de 2008 – Ter boa capacidade de comunicação é fundamental no mundo corporativo. Por isso, atentar contra a língua portuguesa durante uma apresentação de negócios pode arranhar a imagem profissional de qualquer gestor. Principalmente se a gafe for o uso do gerundismo, vício de linguagem que se tornou uma espécie de praga nas empresas nos últimos anos. Por estar associado aos níveis mais baixos da hierarquia empresarial, usar expressões como “vamos estar reestruturando” soa como palavrão quando pronunciadas por um executivo.
Como todos estão sujeitos a eventuais deslizes, uma dica para contornar a situação é usar o bom humor. A sugestão é de Ricardo Piovan, diretor da Portal Fox, empresa especializada em consultoria organizacional, coaching e treinamentos. Há cerca de cinco anos, quando começou a fazer palestras, ele percebeu que costumava incorrer em alguns vícios de linguagem – palavras ou construções que atrapalham a manifestação clara do pensamento (veja box) – e resolveu fazer um treinamento específico sobre comunicação. “Hoje, como meu ouvido está mais educado, se escapa um gerundismo, faço uma brincadeira com a situação e continuo”, comenta.
Para Piovan, o hábito de usar gerundismos prejudica a credibilidade do profissional. Ou seja, o público pode pensar que a falta de preocupação com algo tão básico como a própria capacidade de expressão pode ser um indício de negligência com outros aspectos da carreira. “Esse raciocínio não é necessariamente verdadeiro, pois a pessoa pode ser ótima gestora. Mas a queda de confiança acontece, e até de modo inconsciente”, alerta Piovan. A boa notícia é que na alta gerência esse tipo de problema é incomum. Porém, os demais escalões precisam ficar alertas. “Entre os coordenadores e também no nível operacional, o gerundismo ocorre com freqüência”, aponta.
Curiosamente, segundo os acadêmicos, o gerundismo não é um erro do ponto de vista gramatical. “Não há nenhuma regra na língua portuguesa que impeça a utilização desse tipo de construção”, esclarece José Simões, professor da Faculdade de Letras da Universidade de São Paulo (USP). Porém, no mundo corporativo e mesmo fora dele, esse tipo de expressão verbal continua sendo malvisto.
Seja ou não mero preconceito, o fato é que há formas menos polêmicas e até mais simples de formular a mesma idéia que o gerundismo tenta expressar. Sem contar que esse vício de linguagem é geralmente associado aos funcionários de telemarketing. Há quem diga que o gerundismo começou com a má tradução dos manuais de telemarketing, em meados dos anos 90. É que no inglês o gerúndio é uma das formas verbais usadas para indicar futuro, em uma estrutura que não existe na língua portuguesa.
A explicação é engenhosa mas, para Simões, carece de base. “Acho que até agora ninguém olhou essas apostilas para saber se foi assim mesmo que o gerundismo surgiu”, contesta. O acadêmico tem outra hipótese para o fenômeno. Para ele, no contexto do telemarketing, as pessoas tentam usar uma linguagem mais culta do que normalmente usam. Por isso, acabam criando uma “pseudonorma culta da língua”. Ele lembra que, há cerca de duas décadas, os professores de português consideravam errada a locução verbal “vou ir”. Hoje, esse tipo de construção é a mais comum para expressar o futuro. O problema é que os funcionários de telemarketing “tentam mascarar o vou mandar e acabam dizendo vou estar mandando”, analisa.
De qualquer modo, quem ocupa os primeiros postos das empresas já está mais atento ao problema. Para Regina, o gerundismo ainda é muito falado, mas os executivos já “se tocaram” do problema. Ela conta que uma de suas alunas, uma consultora na área de empreendedorismo, costumava usar muito esse emprego incorreto do gerúndio. “As pessoas comentavam o fato. Diziam que ela tinha um modo de falar que não era compatível com a função dela. Para ser sincera, o gerundismo é visto como uma linguagem de pessoas menos qualificadas. Além de ser antipático e cansar o ouvinte”, observa.
(Gazeta Mercantil – João Paulo Freitas)

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